domingo, 8 de janeiro de 2023

Brasília em disputa

  

Os fatos se sucedem rapidamente. Novas informações chegam a todo instante para quem se dispõe a lê-las. De fato, quem antecipava, ou mesmo sonhava, que o ano de 2023 seria um passeio no parque para o novo governo, acaba de colidir com a duríssima realidade da grande crise brasileira, tal qual um motorista cego bate de frente com um incontornável muro de aço e concreto.

A fúria extremista, gestada há anos pelo regime bolsonarista, atinge o coração da democracia, pondo em xeque toda a institucionalidade brasileira. Os prédios públicos que melhor simbolizam o Estado Democrático de Direito foram invadidos, saqueados e aviltados por uma turba de criminosos enlouquecidos. Aquilo que fora ensaiado muitas vezes, com a coordenação do próprio Jair Bolsonaro, concretizou-se de maneira sórdida e bárbara. Não seria exagero afirmar que a crise política iniciada, há quase dez anos, com os protestos de Junho de 2013, alcançou hoje um ponto de tensão nunca antes visto. Hoje pode ter sido o pior dia da República desde o fim da Ditadura Militar.

Tanto os militantes comprometidos com a luta anticapitalista e antifascista, quanto os cidadãos defensores dos valores democráticos, devem se manifestar publicamente. Calar-se, significa abrir brechas para a extrema-direita. A democracia liberal tem contradições e limitações gritantes, porém o surgimento de um regime fascista seria um retrocesso civilizacional de proporções nunca antes vista em nossa amada terra. Nesse ponto da história humana, em que uma crise climática e humanitária bate à nossa porta, se mergulharmos no extremismo fascista, haveremos perfurado o último prego do próprio caixão.

O que vier a partir de agora, pode determinar o restante do Governo Lula. Se o presidente e seu entorno político demonstrarem fraqueza ou confusão, correrão o risco de sofrer ataques cada mais violentos, abrindo brechas para um eventual Golpe de Estado. Por enquanto, tal possibilidade ainda é muito distante, porém cogitá-la não está fora da realidade. Uma força política que falha em manter o controle e a ordem social, perde espaço para outra mais forte, que, certamente, achará uma maneira de reprimir seus opositores.

Não pode haver hesitação em achar, prender, questionar e punir tais criminosos; seu lugar é atrás das grades, no banco dos réus e, por fim, no ostracismo; o mesmo vale para seus financiadores, cujos nomes serão trazidos à tona nas próximas semanas. Todos devem emergir do submundo da conspiração virtual e dar satisfações à Justiça do país, inclusive os que se refugiam no exterior, esperando proteção de nações estrangeiras. Chegou a hora de todos mostrarem suas caras em público.

É cada vez mais claro que a batalha política em nosso país não se resolverá tão somente nas urnas, na aceitação do chamado rito eleitoral. Não estamos mais na conjuntura de décadas passadas, em que o questionamento às urnas era conversa de uma minoria maluca. A despeito do esforço de muitos em recuperar um tempo perdido na lembrança, refiro-me aos dois mandatos de Lula, o passado não volta e nem se repete. Para mim, está claro que seu terceiro mandato será, no mínimo, instável, tal qual fora a gestão de Dilma e seus sucessores. Numa perspectiva mais ampla, anunciou-se hoje o alvorecer de uma década tão turbulenta quanto a que se encerrou anos atrás, ou seja, teremos instabilidade política, crise social e estagflação convivendo simultaneamente — somando-se ao agravamento do cenário internacional.

Os fatos se assemelham à invasão do Capitólio norte-americano, ocorrida no início do ano retrasado, que, por algumas horas, deixou de cabelos em pé as classes dominantes daquele país. Há anos, temos visto a intolerância, o autoritarismo e o extremismo se disseminarem mundo afora, tal qual um vírus altamente transmissível. Até agora, nada parece deter essa maré beligerante e corrosiva — confirma-se, assim, a disposição da psique humana para a insanidade, o ódio mais lacerante e autodestrutivo. Enquanto isso, os líderes e movimentos à esquerda tentam livrar-se do desencanto, da apatia e da paralisia, mas lhes falta recuperar a força de sonhar um outro mundo para as gerações presentes e futuras; contentam-se com pequenas vitórias e estratégias repetidas à exaustão. 

Não sou um cientista político. Limito-me a dizer o que penso e a defender publicamente uma posição de radicalismo à esquerda, que se contraponha ao capitalismo dos nossos dias, o principal responsável pelas diversas crises que assolam toda a Humanidade. Exercer a cidadania implica posicionar-se politicamente, seja a favor do status quo ou contra dele. Com efeito, não sou imparcial, tampouco me ausentarei das questões nacionais, a fim de buscar agradar a todos. Ademais, não duvido que exista pessoas mais bem preparadas que eu na seara política, mas não me omitirei. Quem se dispuser a acompanhar minhas modestas publicações, saberá, exatamente, o que penso destes dias que estamos vivendo.

Sinceramente, eu não esperava ter de escrever um texto desses tão cedo; afinal, estamos no comecinho da segunda semana do ano. Mas, como se diz por aí, a realidade se impõe. Cabe a nós, seus mais fiéis estudiosos, interpretá-la com esmero e lucidez. 

 

Daniel Viana de Sousa

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