Os
fatos se sucedem rapidamente. Novas informações chegam a todo instante para
quem se dispõe a lê-las. De fato, quem antecipava, ou mesmo sonhava, que o ano
de 2023 seria um passeio no parque para o novo governo, acaba de colidir com a duríssima
realidade da grande crise brasileira, tal qual um motorista cego bate de frente
com um incontornável muro de aço e concreto.
A
fúria extremista, gestada há anos pelo regime bolsonarista, atinge o coração da
democracia, pondo em xeque toda a institucionalidade brasileira. Os prédios
públicos que melhor simbolizam o Estado Democrático de Direito foram invadidos,
saqueados e aviltados por uma turba de criminosos enlouquecidos. Aquilo que
fora ensaiado muitas vezes, com a coordenação do próprio Jair Bolsonaro,
concretizou-se de maneira sórdida e bárbara. Não seria exagero afirmar que a
crise política iniciada, há quase dez anos, com os protestos de Junho de 2013,
alcançou hoje um ponto de tensão nunca antes visto. Hoje pode ter sido o pior
dia da República desde o fim da Ditadura Militar.
Tanto
os militantes comprometidos com a luta anticapitalista e antifascista, quanto
os cidadãos defensores dos valores democráticos, devem se manifestar
publicamente. Calar-se, significa abrir brechas para a extrema-direita. A
democracia liberal tem contradições e limitações gritantes, porém o surgimento
de um regime fascista seria um retrocesso civilizacional de proporções nunca
antes vista em nossa amada terra. Nesse ponto da história humana, em que uma
crise climática e humanitária bate à nossa porta, se mergulharmos no extremismo
fascista, haveremos perfurado o último prego do próprio caixão.
O
que vier a partir de agora, pode determinar o restante do Governo Lula. Se o
presidente e seu entorno político demonstrarem fraqueza ou confusão, correrão o
risco de sofrer ataques cada mais violentos, abrindo brechas para um eventual
Golpe de Estado. Por enquanto, tal possibilidade ainda é muito distante, porém cogitá-la
não está fora da realidade. Uma força política que falha em manter o controle e
a ordem social, perde espaço para outra mais forte, que, certamente, achará uma
maneira de reprimir seus opositores.
Não
pode haver hesitação em achar, prender, questionar e punir tais criminosos; seu
lugar é atrás das grades, no banco dos réus e, por fim, no ostracismo; o mesmo
vale para seus financiadores, cujos nomes serão trazidos à tona nas próximas
semanas. Todos devem emergir do submundo da conspiração virtual e dar
satisfações à Justiça do país, inclusive os que se refugiam no exterior,
esperando proteção de nações estrangeiras. Chegou a hora de todos mostrarem
suas caras em público.
É
cada vez mais claro que a batalha política em nosso país não se resolverá tão
somente nas urnas, na aceitação do chamado rito eleitoral. Não estamos mais na
conjuntura de décadas passadas, em que o questionamento às urnas era conversa de
uma minoria maluca. A despeito do esforço de muitos em recuperar um tempo perdido
na lembrança, refiro-me aos dois mandatos de Lula, o passado não volta e nem se
repete. Para mim, está claro que seu terceiro mandato será, no mínimo,
instável, tal qual fora a gestão de Dilma e seus sucessores. Numa perspectiva
mais ampla, anunciou-se hoje o alvorecer de uma década tão turbulenta quanto a
que se encerrou anos atrás, ou seja, teremos instabilidade política, crise
social e estagflação convivendo simultaneamente — somando-se ao agravamento do
cenário internacional.
Os fatos se assemelham à invasão do Capitólio norte-americano, ocorrida no início do ano retrasado, que, por algumas horas, deixou de cabelos em pé as classes dominantes daquele país. Há anos, temos visto a intolerância, o autoritarismo e o extremismo se disseminarem mundo afora, tal qual um vírus altamente transmissível. Até agora, nada parece deter essa maré beligerante e corrosiva — confirma-se, assim, a disposição da psique humana para a insanidade, o ódio mais lacerante e autodestrutivo. Enquanto isso, os líderes e movimentos à esquerda tentam livrar-se do desencanto, da apatia e da paralisia, mas lhes falta recuperar a força de sonhar um outro mundo para as gerações presentes e futuras; contentam-se com pequenas vitórias e estratégias repetidas à exaustão.
Não
sou um cientista político. Limito-me a dizer o que penso e a defender publicamente
uma posição de radicalismo à esquerda, que se contraponha ao capitalismo dos
nossos dias, o principal responsável pelas diversas crises que assolam toda a
Humanidade. Exercer a cidadania implica posicionar-se politicamente, seja a
favor do status quo ou contra dele. Com efeito, não sou imparcial, tampouco me
ausentarei das questões nacionais, a fim de buscar agradar a todos. Ademais, não
duvido que exista pessoas mais bem preparadas que eu na seara política, mas não
me omitirei. Quem se dispuser a acompanhar minhas modestas publicações, saberá,
exatamente, o que penso destes dias que estamos vivendo.
Sinceramente, eu não esperava ter de escrever um texto desses tão cedo; afinal, estamos no comecinho da segunda semana do ano. Mas, como se diz por aí, a realidade se impõe. Cabe a nós, seus mais fiéis estudiosos, interpretá-la com esmero e lucidez.
Daniel Viana de Sousa
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