domingo, 30 de junho de 2024

20 séries que me marcaram

 

        Desde o início da década passada, temos experimentado um período áureo na produção de séries televisivas. Decidi, então, fazer outra lista. Desta vez, apresentarei as séries que mais me marcaram nesses últimos treze anos. Como não sou um grande consumidor desse tipo de conteúdo, o número de obras selecionadas é menor em relação às outras listas que já publiquei por aqui.

Algumas dessas produções tornaram-se um fenômeno de massas, uma obsessão coletiva. Crianças, jovens e adultos das mais diversas nacionalidades passaram a debater, em tavernas, calabouços e redes sociais, o destino dos seus personagens prediletos e também a morte dos vilões mais pérfidos. Claro que o conteúdo era — e continua sendo — quase inteiramente dos Estados Unidos da América, centro pulsante da indústria cultural mundial.

Aliás, mesmo com a pirataria promovida em larga escala, não falta verba pra se produzir conteúdo televisivo da mais alta complexidade em terras anglo-americanas; a cada temporada que passa, o orçamento de algumas franquias alcança cifras milionárias, comparáveis às maiores produções hollywoodianas. Trata-se de uma prova cabal de que a produção cultural só é vista como algo fútil e supérfluo por parte dos brasileiros mais pré-históricos. Na realidade, do lado de cá, muitos sonham em assinar um contrato com esses estúdios, ainda que seja como dublê ou decorador de camarim. Não há dúvidas de que isto seja parte de um fenômeno bem conhecido nas terras ao sul do Equador: o imperialismo cultural.

No entanto, como todas as minhas listas apontam, eu não me disponho a guerrear os gentlemen de pele alva, que nos fazem visitas periódicas há mais de cinco séculos. Ao contrário, tal qual um tupi lusitano, estou disposto a recebe-los e devorá-los, desmembrando suas carnes, falares e saberes, indo ao âmago da essência mais secreta e íntima. Estou em busca do que não sou, para, assim, decifrar o que apenas eu consigo sentir em mim. Se encontrarei o que procuro, só o tempo responderá. Deixe-o falar em sua língua cheia de malícia e mistérios.

Assim como ocorrera com a invasão do rock, na segunda metade do século XX, resta aos brasileiros contemplarem, de boca aberta, os dragões valirianos tocarem fogo no parquinho. Sem dúvidas, seria inútil enfrenta-los a essa altura do campeonato. Eu não entro nessa. Precisamos realizar uma valorização da cultura brasileira que não feche as portas — e as mentes — para a influência externa. Não podemos deter a roda da História, e sim encontrar meios de usá-la ao nosso favor.

E, mesmo que ter sucesso não seja, necessariamente, ter qualidade, seria espantoso se alguém afirmasse desconhecer tudo que estou falando aqui. Isso me faria censurá-lo por seu descaso com o pouco de bom que ainda sobrevive na televisão contemporânea. Atenção! Aproveite enquanto há tempo, pois é impossível saber se a qualidade será mantida nos próximos anos, ainda que, como a própria lista indica, boas histórias continuem sendo feitas, ano após ano, por diferentes diretores, roteiristas, atores etc.

       Antes de mais nada, é preciso relembrar os mais perfeccionistas que todas as criações têm seus altos e baixos. Certas dramatizações, como Game of Thrones, não conseguiram um encerramento à altura do esperado; outras tiveram um começo magistral, mas decepcionaram logo em seguida, como fora o caso de Westworld. No entanto, as séries que insisti em pôr aqui me impactaram, a despeito de seus triunfos e fracassos, das propostas inovadoras e escolhas erradas. Pois, fazer arte não é fácil. Ela nos exige uma dedicação que a maioria do público, simplesmente, desconhece. Nada cai do céu e não existem manuais quando se anda às escuras no processo criativo. Pelo contrário, a fronteira que separa uma formulação bem pensada de uma tontice não é tão visível quanto pensam alguns juízes de internet, de modo que quase todos os veteranos do meio artístico, em algum momento, já se equivocaram na realização do seu ofício. Essa “confusão” fica ainda mais interessante quando o artista erra e, supreendentemente, o público aplaude sem se dar conta do que, de fato, aconteceu. Algumas vezes, o “erro” é tudo que o público mais espera. Portanto, pensem bem antes de criticarem qualquer artista!

As obras que escolhi se sobressaem por sua qualidade, ainda que eu não tenha visto outras séries elogiadas pelo público e pela crítica, como é o caso, por exemplo, de Narcos e The Big Band Theory. No futuro, talvez eu faça novas listas com o que estou vendo hoje. Enfim, estou convencido de que, no futuro, algumas destas franquias serão lembradas como a definição de toda uma época.

 

1.    Game of Thrones (HBO), David Benioff & D. B. Weiss;

2.    House of the Dragon (HBO), George Martin and Ryan Condal;

3.    Westworld (HBO), Jonathan Nolan & Lisa Joy;

4.    Power of Art (BBC), Simon Schama;

5.    Vikings (History Channel), Michael Hirst;

6.    Wild, Wild Country (Netflix), Maclain Way & Chapman Way;

7.    Breaking Bad (AMC), Vince Gilligan;

8.    Stranger Things (Netflix), Os irmãos Duffer;

9.    Black Mirror (Netflix), Charlie Brooker;

10. Sessão de Terapia (GNT e Globoplay), Jaqueline Vargas;

11. PSI (HBO), Contardo Calligaris;

12. House of Cards (HBO), Beau Willimon;

13. The Handmaid’s Tale (HULU), Bruce Miller;

14. Chernobyl (HBO), Craig Mazin;

15. Fallout (Amazon), Graham Wagner e Geneva Robertson-Dworet;

16. Shogun (HULU), Rachel Kondo e Justin Marks;

17. The Last of Us (HBO), Craig Mazin e Neil Druckmann;

18. The Devil Next Door (Netflix), Yossi Bloch e Daniel Sivan;

19. O povo brasileiro (GNT), Grinspum Ferraz;

20. The Vietnam War (2017), Ken Burns e Lynn Novick.

 

 

Daniel Viana de Sousa

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