O
universo da cultura pop sempre me
cativou, e — ao contrário do que dizem por aí — há uma quantidade
considerável de material bom a ser consumido, sem medo de se ingerir elementos
nocivos à saúde da inteligência. De fato, nem tudo que a indústria
cultural gera é imprestável ou supérfluo. Na verdade, o mundo pop me acompanhou desde bem cedo, seja
nos filmes e séries, nos animes e mangás, seja na literatura de best-sellers e blockbusters, de modo que aquilo que sou, em parte, nasceu dessa
simbiose de arte e entretenimento.
Após
fazer listas de músicas, filmes, álbuns e séries, chegou a hora de apresentar alguns
dos personagens de ficção mais marcantes que conheci até aqui. Escolhi um
personagem por livro, filme, anime ou série, de modo que, certamente, muito
material bom ficou de fora. Na realidade, qualquer classificação é parcialmente
injusta — às vezes, o que fica de fora não é menos impactante do que aquilo que
acaba sendo escolhido para aparecer aqui —, mas não lhes trazer lista alguma seria,
a meu ver, ainda pior, pois temos de dar algum norte a quem nos lê. Afinal, o
tempo que dispomos é sempre curto. Precisamos deixar o mundo que nos é familiar
se quisermos acessar o que trafega além do horizonte, caso contrário teremos
vivido uma existência que nos frustrará perante a morte. Nesse sentido, os
heróis helenos estavam corretos em temer a mediocridade de uma vida levada
bovinamente.
Lamento
por aqueles que não enxergam valor nos labirintos da ficção, optando pelo torpor
de um domingo no sofá, deleitando-se com pizza e guaraná em frente à televisão.
Ainda hoje, é fácil acomodar-se a uma distração tão desnecessária quanto a
rotina televisiva; não deveríamos nos espantar que ela seja concebida, desde os
postos de comando dos conglomerados de comunicação, para nos enfiar esterco goela abaixo, sem nenhuma reflexão ou qualquer coisa que, de fato, promova uma
transformação no indivíduo. Muito pelo contrário, a morbidez cognitiva é a
regra do que assistimos ao ligar o televisor, bem como boa parte do que está em
evidência nas redes sociais. De certa forma, a televisão ainda é um retrato do
Brasil, um espelho no qual podemos ter um vislumbre da sociedade em que vivemos.
Afastar-se de tudo isso, como um estoico monástico, só pode nos trazer ganhos à saúde física e mental.
Ler,
por sua vez, requer um heroísmo que se torna cada vez mais penoso à medida que
o leitor deixa o conhecimento de lado, preferindo as banalidades de uma sociedade
viciada em se entreter, como se fugisse de um silêncio feroz, capaz de
devorá-lo se fosse, enfim, liberto. Seria esse silêncio a causa de um coração sufocado
e inquieto? Estariam as suas consciências gemendo desgraçadamente? Nesse caso,
a leitura seria “ameaçadora”, porque poderia nos levar a portas perigosas. Quem
não é habituado a percorrer tais recantos tortuosos, costuma se sentir
desperdiçando o próprio tempo, e logo deixa o livro de lado. Assim disse Tyrion
Lannister: do mesmo modo que a espada precisa da pedra para se manter afiada, a
mente precisa dos livros; ela precisa lê-los página por página, sem pressa de
chegar ao final, sugando seu sumo até o âmago, comungando, com o protagonista,
de suas dores e alegrias, derrotas e conquistas.
Ler
nunca foi fácil para os iniciantes, o que, talvez, explique o fato da maioria dos
brasileiros não lerem livros ao longo de suas vidas. Claro que, no caso
nacional, há outros aspectos socioeconômicos que precisam ser considerados: o
alto preço dos livros, o sucateamento da educação pública, o desincentivo à busca
pelo saber, a falta de tempo livre do trabalhador que transita pelas grandes
cidades e assim por diante. O fato é que, enquanto coletividade, ainda somos um
povo avesso à leitura, ao contato com o livro na intimidade do quarto de dormir.
Enquanto a televisão tem seu lugar garantido na sala de estar dos brasileiros,
o livro é quase um extraterrestre para a família comum, sem mesmo uma estante
que o comporte adequadamente.
Agora,
falemos da lista que trago nessa postagem.
O
que esses personagens têm em comum? Difícil pergunta. Talvez uma certa nobreza
nipônica, paixão cavalheiresca, uma valentia heroica, resiliência homérica, mas
também (em alguns casos) uma pureza primaveril que os torna incompreensíveis à
sua época. Alguns influenciaram a minha infância e adolescência, enquanto que
outros chegaram até mim só na vida adulta. Tal qual um Prometeu que nos traz a luz
do esclarecimento, conhecê-los mexeu comigo, transformando minha forma de ver o
mundo à nossa volta. Também não nego que minha solidão tenha sido atenuada após
esse encontro, pois eles são a personificação daquilo que os rebeldes
compartilham entre si: uma individualidade irredutível, singularidade incapaz
de se dobrar, disposta a nadar contra a maré e sacrificar-se se for preciso. Nesses
tempos de resignação apática, tais personagens são uma lufada de brisa
acolhedora e, ao mesmo tempo, um furacão dentro das nossas cabeças.
A
lista abaixo apresenta alguns dos personagens que mais me chamaram a atenção:
1.
Kenshin Himura (Samurai X);
2.
Myamoto Musashi (Vagabond);
3.
Ip Man (Donnie Yen);
4.
Moritsugu Katsumoto (Ken Watanabe);
5.
John Keating (Robin Williams);
6.
Dr. Carlo Antonini (Emílio de Mello - PSI);
7. Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood);
8. Ryoko (Tenchi Muyo);
9.
Nausicaa (Nausicaa do Vale do Vento);
10. Forrest
Gump (Tom Hanks);
11. Tyrion
Lannister (As Crônicas de Gelo e Fogo);
12. William
Wallace (Mel Gibson);
13. Jacques Mayol (A imensidão azul);
14. Santiago
(O Velho e o Mar);
15. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis);
16. Neo/
sr. Anderson (Matrix);
17. André
(Lavoura Arcaica);
18. Ulisses
(Alfred Tennyson);
19. João
Grilo (Auto da Compadecida);
20. Príncipe
Míchkin (O Idiota);
21. Furiosa
(Charlize Theron);
22. Coringa
(Heath Ledger);
23. Feanor
(Silmarillion);
24. Gandalf
(O Senhor dos Anéis);
25. Anakin Skywalker/Darth Vader (Star Wars).
Daniel
Viana de Sousa
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