sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Coração errante

 

Tudo que o tempo esgarça

cativa meu coração errante:

a velhice consumida pela traça

a santa loucura dum mero instante.

 

Sou homem que detesta a farsa,

mas que venera um furor arrogante:

o selvagem que luta pela taça

e o amor embevecido da puta amante.

 

Sempre me livre da maldita desgraça

de viver sem um apelo vibrante,

morrendo como uma vil ameaça

ao prazer duma paixão extravagante.

 

Me conceda uma felicidade esparsa,

semeada em cada lugarejo distante,

pontilhada numa folha que realça

minha busca por um gozo delirante.

 

Daniel Viana

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