Esta é a primeira vez que falo
sobre a pandemia que se alastra pelo mundo desde 2019.
Naquela época, eu estava mergulhando
em assuntos pessoais: concluir a graduação em Tradução e dar um novo rumo à
minha vida — eu passara sete anos na UFPB, fazendo o que todo universitário faz
para conseguir seu título de bacharel.
Assim
como quase todas as pessoas do meu tempo, jamais pensei que uma pandemia
poderia arrasar com a vida de tantas pessoas em tantos lugares num espaço tão
curto de tempo, embora já me preocupasse há um bom tempo sobre a proliferação
de superbactérias em decorrência do uso descuidado de antibióticos. Aliás, quero deixar registrado meu temor de que ainda vejamos problemas relacionados a superbactérias
num futuro não tão distante.
Tenho a impressão de que a fase mais
sombria da pandemia ficou para trás, embora seus efeitos na Economia, na
Política e na Sociedade se mantenham por mais alguns anos. Ainda estamos
vivendo um dos piores momentos da nossa História enquanto nação. Aliás, tenho
certeza de que a possibilidade de tudo piorar mantenha-se mais viva do que
nunca. Estamos num país que sofre as consequências de problemas mal resolvidos,
oportunidades desperdiçadas, vícios irresolvíveis, os quais se perpetuam à
medida que os anos passam. O analfabetismo persiste, a miséria e a fome se
acentuam, a falta de saneamento básico não se resolve, o encarceramento em
massa de negros e pardos não se supera, a violência contra mulheres e minorias
não se dirime, a poluição não se anula, a corrupção não se purga, a economia
não decola, a desindustrialização não se reverte, a desigualdade social
persiste indefinidamente…
Não
importa qual sigla partidária assuma o comando dos cargos públicos ou qual será
a nova figura política que nos governará a partir de Brasília, o Brasil sofre
de uma crise sistêmica que só será superada e compreendida em sua plenitude
daqui a uns bons anos pela frente.
E,
a despeito de Bolsonaro e Lula serem políticos absolutamente diferentes, não
alimento grandes esperanças para as Eleições de 2022, caso o PT volte ao poder
— sei que isso escandaliza alguns, mas é o que sinceramente penso. É claro que
boa parte da tragédia que nos aflige se deva à gestão calamitosa, sectária e
criminosa de Bolsonaro e seus incompetentes ministros. Mas, isso não muda
aquilo que o PT representa para o nosso país. Como já disse antes, muitos vivem
de um passadismo ilusório, cujo efeito expressa-se na obsessão em ver Lula
voltar à cadeira presidencial. Entretanto, vivemos numa conjuntura socioeconômica
completamente díspar em relação àquela em que o PT chegou ao governo federal,
de modo que as velhas estratégias, as espúrias alianças e os costumes de sempre
não surtirão o efeito desejado pela cúpula petista. É preciso uma mudança
verdadeiramente estrutural em toda sociedade brasileira.
Certamente,
o cenário político é demasiadamente movediço, de modo que ainda é cedo para saber
quem será o próximo Presidente da República — há quem diga que o atual
presidente corre o risco de não estar presente nas próximas eleições, haja
vista as suas patacoadas e desatinos escatológicos. O próprio Bolsonaro estava
longe de ser o franco favorito no início de 2018, de tal maneira que, só às
vésperas de Outubro de 2022, é que saberemos os potenciais competidores à
cadeira presidencial. Resta-nos acompanhar os fatos políticos que se acumulam à
medida que os dias passam.
Aquilo
que tenho certeza é que dificilmente sairemos do atoleiro que temos pela frente,
pois a crise econômica alimenta a crise política e vice-versa. De certa forma,
é como se estivéssemos cavando a própria vala, só que sem nos darmos conta.
Agarrados às nossas preferências ideológicas e ensurdecidos para aquilo que os
demais tentam apontar de concreto, acusamos os oposicionistas de afundar o país,
enquanto que a balbúrdia coletiva só piora o cenário nacional. De fato, é a
desunião que nos condena ao fracasso enquanto nação.
Dissensos
desta magnitude por vezes desembocam em guerras civis, o que não é improvável
para um país fraturado como o nosso. Não nego que haja, em nossa sociedade,
grupos interessados na subjugação do nosso povo, no entanto, a grande maioria
deseja o mesmo: o triunfo do Brasil enquanto nação. Acalmemos, portanto, os
nossos corações e ouçamos uns aos outros pacientemente, a fim de que a soma dos
erros individuais não resulte numa completa convulsão social. Ainda há
esperança para a nossa gente emergir do oceano de tragédias e triunfar soberanamente.
Daniel Viana
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