domingo, 31 de outubro de 2021

O que temos à nossa frente

 

         Esta é a primeira vez que falo sobre a pandemia que se alastra pelo mundo desde 2019.

            Naquela época, eu estava mergulhando em assuntos pessoais: concluir a graduação em Tradução e dar um novo rumo à minha vida — eu passara sete anos na UFPB, fazendo o que todo universitário faz para conseguir seu título de bacharel.

Assim como quase todas as pessoas do meu tempo, jamais pensei que uma pandemia poderia arrasar com a vida de tantas pessoas em tantos lugares num espaço tão curto de tempo, embora já me preocupasse há um bom tempo sobre a proliferação de superbactérias em decorrência do uso descuidado de antibióticos. Aliás, quero deixar registrado meu temor de que ainda vejamos problemas relacionados a superbactérias num futuro não tão distante.

            Tenho a impressão de que a fase mais sombria da pandemia ficou para trás, embora seus efeitos na Economia, na Política e na Sociedade se mantenham por mais alguns anos. Ainda estamos vivendo um dos piores momentos da nossa História enquanto nação. Aliás, tenho certeza de que a possibilidade de tudo piorar mantenha-se mais viva do que nunca. Estamos num país que sofre as consequências de problemas mal resolvidos, oportunidades desperdiçadas, vícios irresolvíveis, os quais se perpetuam à medida que os anos passam. O analfabetismo persiste, a miséria e a fome se acentuam, a falta de saneamento básico não se resolve, o encarceramento em massa de negros e pardos não se supera, a violência contra mulheres e minorias não se dirime, a poluição não se anula, a corrupção não se purga, a economia não decola, a desindustrialização não se reverte, a desigualdade social persiste indefinidamente…

Não importa qual sigla partidária assuma o comando dos cargos públicos ou qual será a nova figura política que nos governará a partir de Brasília, o Brasil sofre de uma crise sistêmica que só será superada e compreendida em sua plenitude daqui a uns bons anos pela frente.

E, a despeito de Bolsonaro e Lula serem políticos absolutamente diferentes, não alimento grandes esperanças para as Eleições de 2022, caso o PT volte ao poder — sei que isso escandaliza alguns, mas é o que sinceramente penso. É claro que boa parte da tragédia que nos aflige se deva à gestão calamitosa, sectária e criminosa de Bolsonaro e seus incompetentes ministros. Mas, isso não muda aquilo que o PT representa para o nosso país. Como já disse antes, muitos vivem de um passadismo ilusório, cujo efeito expressa-se na obsessão em ver Lula voltar à cadeira presidencial. Entretanto, vivemos numa conjuntura socioeconômica completamente díspar em relação àquela em que o PT chegou ao governo federal, de modo que as velhas estratégias, as espúrias alianças e os costumes de sempre não surtirão o efeito desejado pela cúpula petista. É preciso uma mudança verdadeiramente estrutural em toda sociedade brasileira.

Certamente, o cenário político é demasiadamente movediço, de modo que ainda é cedo para saber quem será o próximo Presidente da República — há quem diga que o atual presidente corre o risco de não estar presente nas próximas eleições, haja vista as suas patacoadas e desatinos escatológicos. O próprio Bolsonaro estava longe de ser o franco favorito no início de 2018, de tal maneira que, só às vésperas de Outubro de 2022, é que saberemos os potenciais competidores à cadeira presidencial. Resta-nos acompanhar os fatos políticos que se acumulam à medida que os dias passam.

Aquilo que tenho certeza é que dificilmente sairemos do atoleiro que temos pela frente, pois a crise econômica alimenta a crise política e vice-versa. De certa forma, é como se estivéssemos cavando a própria vala, só que sem nos darmos conta. Agarrados às nossas preferências ideológicas e ensurdecidos para aquilo que os demais tentam apontar de concreto, acusamos os oposicionistas de afundar o país, enquanto que a balbúrdia coletiva só piora o cenário nacional. De fato, é a desunião que nos condena ao fracasso enquanto nação.

Dissensos desta magnitude por vezes desembocam em guerras civis, o que não é improvável para um país fraturado como o nosso. Não nego que haja, em nossa sociedade, grupos interessados na subjugação do nosso povo, no entanto, a grande maioria deseja o mesmo: o triunfo do Brasil enquanto nação. Acalmemos, portanto, os nossos corações e ouçamos uns aos outros pacientemente, a fim de que a soma dos erros individuais não resulte numa completa convulsão social. Ainda há esperança para a nossa gente emergir do oceano de tragédias e triunfar soberanamente.

 

Daniel Viana

© Todos os direitos reservados

Nenhum comentário:

Postar um comentário