Após um ano e meio de terapia
psicanalítica, chego a conclusões que gostaria de partilhar, pois, assim como
outros pacientes, fui à procura de respostas para uma crise pessoal que colocou
em xeque uma série de certezas que tinha a respeito de mim mesmo.
Naquela época, meu conhecimento
acerca da Psicanálise era nulo. Já tinha ouvido falar de Freud, do inconsciente
e do famigerado divã, mas nada que fosse além do senso comum. Também nunca
tinha tido um interesse especial por qualquer forma de psicoterapia, de modo
que nada disso teria ocorrido sem a coexistência dos seguintes fatores: a crise
pessoal, a busca consciente por uma saída dela, o amparo familiar e a
experiência benéfica que outras pessoas, próximas a mim, já tinham tido antes.
"Se essa terapia já transformou outras vidas, então, por que não a minha
também?", foi o que eu pensei.
Agora, tendo passado por um processo
significativo de autodescoberta e de autoconhecimento, que ainda está longe de
ser finalizado por completo, estou plenamente convencido de que a Psicanálise
não apenas me transformou, como também tem muito a oferecer às pessoas
dispostas a seguir por essa estrada. Assim sendo, resolvi escrever a respeito,
mesmo sabendo que seria impossível pôr em palavras tudo que foi vivido. Na
realidade, esse texto é um modesto elogio à Psicanálise, um singelo
reconhecimento da mudança que eu mesmo passei.
Em primeiro lugar, querer ser ouvido
não é sintoma de esquisitice, nem de falta de amigos, mas parte do fato de que
certas coisas não vão ter a atenção que merecemos, a escuta necessária. Pois as
pessoas que mais amamos, por serem humanas, podem acabar esquecendo de nos
ouvir quando mais precisamos; outras, infelizmente, nem sequer sabem ouvir a si
mesmas, ao seu próprio coração falando; então, como elas poderiam nos dar o que
não permitem ao seu espírito?
Trazer à tona o que foi tantas vezes
silenciado, por censura ou medo, tendo sempre o sigilo como garantia
fundamental, não é sinal de covardia. Pois a nossa vida íntima, ao contrário de
uma mercadoria banal, não precisa ficar à mostra numa vitrine, não vale a
partir de quantos a veem ou a conhecem, não deve satisfações a ninguém. Hoje,
estou convencido de que a privacidade é indispensável à saúde mental dos
indivíduos, bem como imprescindível ao bem-estar coletivo de uma sociedade.
Além do mais, certos assuntos, quando compartilhados com alguém, acabam
perdendo um pouco do seu peso inerente, aquela importância exagerada que
teimamos em atribuir — possivelmente, pela força do hábito. Esse processo, que
muitas vezes é longo, sinuoso e cheio de surpresas, atenua o sofrimento que
sentimos por levar esses dilemas sozinhos.
Terapia psicanalítica não é lugar de
autocomplacência. Pelo contrário, ao sermos confrontados com a manifestação do
inconsciente, resta-nos duas opções: lidar com o conteúdo proveniente de nós
mesmos ou irmos embora. De fato, recusar o que sai da boca, é negar aquilo que
é mais próprio de cada um: a dor silenciada, o desejo acobertado, o remorso
negado etc. No final das contas, cada um faz a sua escolha, assumindo (ou não)
responsabilidade sobre o que é dito no divã. O mais importante, ao menos no meu
entendimento, é a evolução que tal descoberta de si é capaz de propiciar.
Enfim, buscar ajuda de um(a)
profissional da saúde mental, não o torna menos capaz do que os outros; ao
contrário, isso nos lembra a infância, aquele momento em que, após sofrer uma
queda muito dura, terminamos pedindo ajuda para, primeiro, se erguer, em
seguida, dar um passo à frente e, finalmente, voltar a se valer das próprias
pernas. Recusar ajuda, por sua vez, acaba por revelar uma teimosia que só é
verdadeiramente prejudicial a si mesmo. Sempre há espaço para um novo
aprendizado e um reaprendizado de si, um novo olhar para o mundo que nos cerca
e a identidade que construímos para nós mesmos.
De repente, me dei conta de que já não era o
mesmo de antes. À medida que saía do consultório para a rua movimentada, do
espaço íntimo ao espaço público, do mundo particular à realidade externa, era
tomado por uma alegria contagiante, um sorriso indisfarçável; pois sabia que
aquele que havia passado pela porta de entrada não era o mesmo que, agora,
atravessava a porta de saída. Expressar em palavras o que havia dentro de mim,
dando outra forma à maneira como me enxergava, era um meio de transformar a mim
mesmo, uma espécie de cura pela fala.
Por fim, a Psicanálise me mostrou
que ir à procura de uma psicoterapia, não quer dizer que você está fraco, mas
que você está forte o suficiente para se cuidar. Só quem se cuida é capaz de se
amar, de reconhecer o valor da própria existência, e o amor próprio é condição
para amar ao próximo, ou seja, para ser humano em plenitude.
Daniel Viana
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Publicado em 24 de Agosto de 2019.
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