sexta-feira, 24 de maio de 2024

30 discos que fizeram a minha cabeça

 

            Os discos escolhidos aqui me tocaram, dos calafrios na pele exposta até o âmago do caráter. Talvez, algum tenha ficado de fora, mas a síntese fundamental está aí. Além disso, é provável que o leitor suponha que estes são os meus álbuns preferidos. Certamente, aqui está uma compilação inestimável para a minha história. No entanto, eu me limitei a um único disco por artista ou banda, o que já deixa muita coisa boa de fora; também priorizei aquilo que ouvi da adolescência até os anos mais recentes, de modo que as bandas que estou ouvindo há pouco tempo terminaram ficando de fora.

            Há discos que, embora não sejam os mais primorosos de cada artista, deixaram, no momento em que ouvi pela primeira vez, uma marca especial em mim, como é o caso de The Bends (1995), que foi um dos primeiros discos internacionais que me lembro de ter escutado. Há discos que são uma mera compilação, mas que, ainda assim, me apresentaram o artista por inteiro, como é o caso de Legend (1984). Também há discos que, por si só, me apresentaram um gênero musical inteiro, como o Selected Ambient Works (1992) e o Dark Side of the Moon (1973). Além disso, há o caso do Sgt. Pepper’s (1967), que, embora não seja meu disco preferido dos The Beatles, foi a obra que me apresentou — no começo da juventude — a ideia transformadora de um álbum conceitual, bem como toda a efervescência dos anos 1960. De certo modo, o Sgt. Pepper’s foi um dos caminhos que me trouxeram ao eu sou hoje.

            Foi graças à minha família que a maior parte dessas influências chegaram aos meus ouvidos. Enquanto meus irmãos ligavam o som do carro, às vezes viajando à tarde pelo interior do mundão agreste, eu ouvia canção por canção, de Zeca Pagodinho a Tom Jobim, de Belchior a Led Zeppelin, de Cazuza a Bob Marley, e assim por diante. Não posso negar que, algumas vezes, isso acontecia à revelia da minha vontade; ainda assim, agradeço a eles por ter sido incluído nesse oceano musical. A despeito de minhas inúmeras falhas e contradições, eu não seria quem sou hoje sem tais obras.

            Ainda tento manter-me aberto a tudo que encontro pela primeira vez, por mais desafiador que seja. Hoje em dia, somos expostos a estrume em escala global, para dizer o mínimo, pois há um desencanto generalizado um desamor pela beleza da vida, que se reflete naquilo que se pensa e, consequentemente, no que se faz. Valoriza-se, portanto, a inabilidade, a ignorância e a vulgaridade, como sinais claros de “improviso” e “transgressão artística”. Infelizmente, para muitas pessoas, afirmar isso significa assumir-se reacionário e conservador, ou seja, alguém que despreza os oprimidos e a arte por eles produzida. Ah, que pena! Já fomos muito melhores que isso, basta ver a lista abaixo, a qual compilei em poucas horas. Continuo crendo na inventividade humana, ainda que estejamos num período de visível decadência sociocultural.

Enfim, como em todas as listas que faço, a ordem não diz muita coisa. O que verás a seguir foi tão somente o que veio à mente num lampejo triunfante e caótico.

 

1.    Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Bands (1967), The Beatles;

2.    À Vontade (1967), Baden Powell;

3.    Electric Ladyland (1968), Jimi Hendrix;

4.    Let it Bleed (1969), The Rolling Stones;

5.    Stand! (1969), Sly and the Family Stone;

6.    All Things Must Pass (1970), George Harrison;

7.    Dark Side of the Moon (1973), Pink Floyd;

8.    What’s Going On (1971), Marvin Gaye;

9.    Led Zeppelin IV (1971), Led Zeppelin;

10. A Love Supreme (1965), John Coltrane;

11. In a Silent Way (1969), Miles Davis;

12. Highway 61 Revisited (1965), Bob Dylan;

13. The Inner Mounting Flame (1971), Mahavishnu Orchestra;

14. L.A. Woman (1971), The Doors;

15. Clube da Esquina (1972), Clube da Esquina;

16. Acabou Chorare (1972), Novos Baianos;

17. Elis & Tom (1974), Tom Jobim e Elis Regina;

18. A Tábua de Esmeralda (1974), Jorge Bem Jor;

19. Cartola (1974), Cartola;

20. Criaturas da Noite (1975), O Terço;

21. Era uma vez um homem e seu tempo (1979), Belchior;

22. Legend (1984), Bob Marley;

23. O Tempo não Para (1988), Cazuza;

24. As Quatro Estações (1989), Legião Urbana;

25. Selected Ambient Works 85-92 (1992), Aphex Twin;

26. Da Lama ao Caos (1994), Chico Science e Nação Zumbi;

27. Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (1994), Marisa Monte;

28. Meio desligado (1994), Kid Abelha;

29. The Bends (1995), Radiohead;

30. Fleet Foxes (2008), Fleet Foxes.

 

Daniel Viana de Sousa

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