segunda-feira, 31 de julho de 2023

O Brasil que vejo hoje (I)

  

Como a maioria dos que vivem neste lado do Atlântico chamado Brasil, meu mais sincero desejo é ver a liberdade, a igualdade e a prosperidade se realizarem, permanecendo acesas e vivas por longos anos à nossa frente, até que o último dos nossos irmãos liberte-se do cativeiro que lhes foi imposto desde a origem da Modernidade, quando os conquistadores ibéricos deram início a este empreendimento colossal que chamamos de “terra abençoada por Deus”.

Aqui, tratarei de um patíbulo sinistro, embora fascinante: o Brasil.

Antes de mais nada, peço licença aos peritos e acadêmicos, pois, de fato, não sou alguém que possa qualificar-se como especialista nos temas que me arriscarei a delinear neste ensaio. Faço-o, pois, com a travessura de um intrometido no ramo das ciências humanas e sociais, que sempre me cativaram, particularmente, na leitura das obras de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Caio Prado Júnior etc.

Os escritos destes velhos professores se apossaram do meu olhar ao longo de muitas noites insones, enquanto me balançava na rede da varanda ou esparramado no sofá da sala e, a despeito de certos nomes serem, severamente, criticados por autores contemporâneos, alguns de seus trabalhos me deram elementos para compreender a realidade presente, tanto na cidade quanto no campo, tanto nas capitais quanto nos rincões mais obscuros e afastados do nosso país.

Tamanha ânsia por explicações iniciou-se com as mudanças que vieram à tona em Junho de 2013. Eu estive presente nas manifestações que passaram a ser conhecidas como Jornadas de Junho, e, após mais de dez anos, posso afirmar que a minha vida nunca mais foi a mesma. Ver com os próprios olhos e contribuir para que história do seu país mude, é algo que poucos podem reivindicar para si, ainda que, passados alguns anos, nem tudo nos tenha sido favorável. Acho que, daqui a muitos anos, quando já estiver perdendo as memórias da juventude, o dia 20 de Junho de 2013 sobreviverá nos recantos mais profundos do meu ser.

Desde aquela época que me sinto tomado pela urgência de entender esse gigante de pés de barro e o continente à sua volta, a América Latina, bem como as causas do surgimento de uma nova ordem mundial, olhando desde o fim da União Soviética até a Guerra Russo-ucraniana, passando pela emergência da China e o aprofundamento da crise dos Estados Unidos. Que novo mundo é esse que emerge assolado por conflitos e crises de toda espécie? Creio que a resposta para essa pergunta ainda me ocupará o resto da vida, sem qualquer garantia de soluções fáceis ou verdades autoproclamadas.

Admito estar embevecido por um indiscreto atrevimento, que talvez se deixe notar na larguíssima abrangência histórica deste texto, nas declamações pétreas, nas conclusões acusatórias, mas, ao mesmo tempo, esboço estas ideias, provenientes de uma aguerrida determinação e um fervor quase que missionário, com a convicção de quem há muito aprendeu a interpretar as oscilações de um país caótico como o nosso. Portanto, cada linha deve refletir-me por inteiro. Sei bem o peso das palavras, porque aprendi a esgrimi-las com a precisão e o destemor de um espadachim florentino, cujo florete de aço é suficientemente hábil em retalhar até as armaduras mais sólidas.

Escrevo o que penso do Brasil hoje, de tal maneira que, inevitavelmente, haverá rabiscos que não atenuarão minha ojeriza quanto às amarras do presente. Posso incomodar, de maneira profunda e visceral, quem busca florear o retrato deste país, tão querido e aviltado, terra do samba e do Carnaval, o recanto mais caloroso e receptivo que se encontrará abaixo da linha do equador. Por isto, caso você não queira ser tomado por uma acidez desesperançada, afaste-se destas páginas e não volte até que a consciência clame por uma dose de lúcido dissabor. Não vou prometer-lhe a mais ínfima nesga de otimismo, de amanhecer ilusório. Aqui, só se encontrará a sinceridade de um homem simples, que se atreveu a ver a nossa terra pelo prisma da mais colérica revolta.

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